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Francisco Amâncio da Silva e Élio Borges, dois do três últimos projecionistas de cinema em película do Paraná (Foto: Cido Marques)

Três funcionários da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) são responsáveis por preservar no Paraná um ofício em extinção. Tratam-se de Élio Borges, Valdenício Pereira da Silveira e Francisco Amâncio da Silva, que trabalham na Cinemateca de Curitiba. Eles são os últimos projecionistas em atividade na capital paranaense e, possivelmente, no Estado, que ainda dominam a arte de exibir filmes em película. 6tp4n

Mais que técnicos, o trio é guardião da memória cinematográfica e apaixonados por um ofício que caminha para o fim. A Cinemateca de Curitiba, por exemplo, é a única sala de cinema paranaense que ainda realiza sessões de filmes com projeções em película 35 mm e 16 mm.

Os três começaram a carreira quase na mesma época e têm, em média, 40 anos de atividade profissional. Nas últimas décadas, com a digitalização do audiovisual, a projeção em película foi sendo gradualmente substituída por tecnologias mais ágeis e automatizadas, mas isso não intimida os técnicos da Cinemateca.

Histórias projetadas na vida 2a5t2h

Valdenício Pereira da Silveira começou cedo, aos 17 anos, escondido em uma cabine de cinema na cidade de Sete Quedas, no Mato Grosso do Sul. “Eu tinha que ficar escondido porque era menor de idade”, lembra. Anos depois, já em Curitiba, foi indicado para trabalhar no Cine Luz, cinema de rua da Fundação Cultural. 

Para ele, o ofício é mais que uma profissão. 

“É como se eu estivesse fazendo o público sentir aquelas emoções (dos filmes). Isso é um dos motivos de eu continuar até hoje”, conta Valdenício.

A busca por uma vaga de porteiro no antigo Cine Vitória, em Curitiba, no início de 1980, levou Francisco Amâncio para as cabines de projeção. Depois, ou por outros cinemas da cidade, onde aprendeu a projetar filmes na prática, isso antes de chegar à FCC, em 1985. “Um dia, o técnico olhou e disse que minhas emendas estavam melhores que as dele”, orgulha-se Chico. 

Ao longo de mais de 40 anos de profissão, Chico ou por diversos cinemas da cidade e testemunhou a transformação da projeção analógica para a digital. Trabalhou no Cine Luz, no Ritz, na Cinemateca e em salas de bairro, cuidando de cada filme como se fosse joia. 

“Eu digo que me casei com o cinema aos 18 anos. E até hoje não pedi separação”, brinca Francisco. 

Dos cinemas de rua para a FCC 1f575s

“Projetar não se aprende em sala de aula. É prática, repetição, tato”, resume Élio Borges, que, por sua vez, está na Cinemateca desde 1981. ou por cinemas de rua da cidade como o Lido, o Condor e o Plaza, até se fixar na Fundação Cultural de Curitiba.

Técnico e projecionista, Élio é também o responsável pela manutenção dos projetores da Cinemateca de Curitiba. “Trabalho com Super 8, 16 e 35mm. Aqui tudo ainda funciona e acho importante manter, porque a película tem mais textura, dá mais qualidade que o digital. Tem público que prefere”, defende. 

Para esses profissionais, cada sessão carrega uma história. Élio recorda, rindo, de quando cortou um filme por engano, deixando um trecho de Popeye no início de um suspense. “Foi um susto e uma gargalhada coletiva”, diz o projecionista.

Outras histórias, como a sessão gratuita de Natal que Francisco improvisou após o funcionário da bilheteria não aparecer, revelam o compromisso com o cinema e com o público. “Abrir as portas e dizer ‘hoje o cinema é por nossa conta’, move a gente,” releva Chico.

A última cabine 4zh68

Com o avanço do digital, a profissão desapareceu dos cinemas comerciais. “O digital é prático, você recebe o filme por HD, monta a playlist e o projetor liga sozinho. Controlo tudo pelo celular”, explica Valdenício, que atualmente trabalha no Cine Guarani, no Portão Cultural. 

Apesar das diferenças tecnológicas, a essência permanece. “O importante é fazer o filme acontecer para o público, isso exige cuidado, seja na emenda da película ou na configuração do projetor digital”, completa Francisco, que está aprendendo a operar o projetor digital recém-chegado à Cinemateca de Curitiba. 

Atualmente, todas as salas de cinema da Fundação Cultural de Curitiba (Cine eio, Cine Guarani, Teatro da Vila e Cinemateca) têm projetores com tecnologia DPC, o padrão mundial de distribuição e exibição de filmes digitais, com alta qualidade de imagem e som.