
‘Gladiador’, filme lançado em 2000, foi um sucesso de público, crítica e prêmios, e mostrou que havia espaço para épicos históricos no cinema. Várias superproduções vieram nessa esteira, como ‘Tróia’, sobre a guerra de Tróia, ou ‘Alexandre’, sobre o grande líder militar da Macedônia, ou até a franquia ‘Piratas do Caribe’. Até mesmo a saga ‘O Senhor dos Anéis’ se beneficiou da onda criada por ‘Gladiador’. Assim, desde então os estúdios pensaram em uma sequência. Mas como fazê-la, se os principais protagonistas haviam morrido no primeiro filme? (esse spoiler prescreveu). E, principalmente, seria mesmo necessário fazer essa sequência?
Ridley Scott, o diretor do ‘Gladiador’ original, achava que sim, era necessário. Desde 2000, ele tentou repetir o sucesso de ‘Gladiador’ com algum outro épico. Lançou ‘Cruzada’ (2005), ‘Robin Hood’ (2010), ‘Êxodo: Deuses e Reis’ (2014) e mais recentemente, ‘Napoleão’ (2023). Nenhum com a mesma repercussão, embora todos com o apuro estético típico do diretor. Nesse meio-tempo, a sequência do épico de 2000 nunca saiu da pauta em Hollywood. Citou-se até uma ideia de se fazer um filme que trouxesse a jornada de Maximus (Russell Crowe), o gladiador original, no além-vida. Ideia que foi descartada. Para o diretor, para repetir o sucesso de ‘Gladiador’, era necessário fazer outro ‘Gladiador’. E assim surgiu ‘Gladiador 2’, que estreia nesta quinta-feira (14) em Curitiba, dirigido por Ridley Scott.
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Nessa tentativa de repetir o filme original, ‘Gladiador 2’ exagerou. Há uma breve apresentação. Um general romano no comando de uma batalha contra “bárbaros” em algum lugar ermo. Um protagonista que quase morre e vê a sua mulher assassinada. A captura desse protagonista. Um mercador de escravos oportunista que transforma o homem capturado em um gladiador com um propósito. Um imperador errático no governo de Roma. E Lucilla (Connie Nielsen, de volta ao papel), filha do imperador Marco Aurélio, com quem o protagonista tem uma ligação. Tudo isso em meio a batalhas dentro do Coliseu de Roma. Ou seja, exatamente a mesma linha do filme de 2000.
Basicamente, há duas diferenças em ‘Gladiador 2’. A primeira, logicamente, é o protagonista: Lucius Verus (Paul Mescal), filho de Lucilla (Connie Nielsen), que no primeiro filme tenha 12 anos. Agora, quinze anos depois, ele vive na Numídia (norte da África), com o nome de Hanno. Ele é dado como morto depois que sua cidade foi invadida pelos soldados romanos liderados pelo general Acacius (Pedro Pascal). E vira um gladiador após ser comprado pelo mercador Macrinus (Denzel Washington).
Outra diferença é a existência de uma espécie de “xadrez político” em Roma bem mais complexo que no primeiro filme. Dentro desse xadrez, a peça interpretada por Pedro Pascal é a única dissonância. De resto, o novo filme de Scott traz diversos elementos do anterior, incluindo a memória de Maximus entre o povo romano (e entre os gladiadores também).
A memória do filme anterior, por sinal, acabou eclipsando ‘Gladiador 2’. O excesso de repetição faz com que as comparações sejam inevitáveis. Paul Mescal, ator irlandês de 28 anos que protagoniza esse longa, não tem o mesmo carisma de Russell Crowe – que até venceu o Oscar de ator pelo papel de Maximus na época. Tampouco os imperadores Geta e Caracala inspiram o mesmo arrepio que Commodus (Joaquin Phoenix). Além disso, não se deve esperar muita coerência com a história real de Roma. Na verdade, até se suscitam dúvidas sobre se o filme deveria mesmo ter sido feito. Ridley Scott, o diretor, entrega o que foi possível fazer. Visualmente bonito, movimentado, cheio de batalhas, esteticamente bem produzido, mas que fica devendo a alma do original. Agora já foi.
