
A notícia de um movimento denominado “Blockout 2024” trouxe um certo alento pra todos aqueles que não entendem as futilidades e desnecessidades do mundo virtual. Surgido como uma resposta à percepção de insensibilidade ou indiferença de celebridades e influenciadores em relação à crise humanitária que atinge locais como o Oriente Médio, o movimento se propõe a ignorar esses “cidadãos digitais” como uma forma de protesto.
A intenção subjacente é provocar uma mudança de comportamento. O discurso de vidas aparentemente perfeitas exibidas diariamente, numa busca incessante por validação digital, em detrimento da autenticidade, não condiz com as demandas da vida real.
Feeds indiferentes aos assuntos realmente urgentes e relevantes, ostentando imagens de viagens paradisíacas, corpos esculturais e sorrisos impecáveis não colam mais. As redes sociais promovem uma realidade filtrada e editada, onde imperfeições são vistas como falhas a serem corrigidas, ao invés de partes naturais da vida humana.
Zygmunt Bauman, o teórico da “modernidade líquida”, descreveu a natureza fluida e instável da sociedade contemporânea, analisando como essa liquidez afeta vários aspectos da vida moderna, incluindo relações pessoais, identidades, trabalho e consumo. As relações e compromissos são mais temporários e voláteis, refletindo uma sociedade onde a mudança constante é a norma e a permanência é uma raridade. Nesse cenário, a busca pela perfeição se torna uma armadilha que sacrifica nossa essência por aceitação virtual.
O “Blockout 2024” revela o poder das redes sociais em moldar comportamentos e percepções. Ao bloquear celebridades que se mostram indiferentes à crise humanitária, o movimento nos lembra que, mesmo em um mundo digital, a autenticidade e a responsabilidade social ainda são valores essenciais.
A autenticidade, essa sim, é um bem raro nos dias de hoje. Ser verdadeiro consigo mesmo, com suas imperfeições e vulnerabilidades, é um ato de coragem. É nadar contra a corrente, é desagradar, é ser, muitas vezes, incompreendido. Mas é também viver de maneira plena, sem máscaras, sem filtros, sem a necessidade de aplausos constantes.
Hoje, há quem tenha dúvidas sobre o que é mais importante: ser feliz ou parecer feliz? Viver intensamente ou acumular likes? É um dilema contemporâneo, mas de solução atemporal. A felicidade não está em uma foto perfeita, em um comentário elogioso ou em um número crescente de seguidores. Está nas pequenas coisas, nas conexões genuínas, na aceitação das imperfeições.
Bauman lembra que “a felicidade não é algo pronto. Ela vem de nossas próprias ações”. Ser autêntico é um desafio, mas também uma libertação. É olhar pra dentro e encontrar a paz que nenhuma validação externa pode oferecer. É ser fiel a si mesmo, mesmo quando o mundo insiste em nos moldar. E, no fim das contas, é isso que realmente importa.
Da próxima vez que sentir a pressão das redes sociais, lembre-se: a vida real é aqui e agora, sem filtros, sem edições. A beleza está nas imperfeições do cotidiano e a autenticidade é o que traz a verdadeira felicidade.
*Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e vive se questionando sobre o impacto do mundo digital na vida real.