Já dá pra sentir o ar quente se aproximando, junto com o último mês do ano. É dezembro batendo à porta, sem nenhum constrangimento, com aquele jeitinho de amigo intrometido que chega sem avisar, pedindo satisfação dos últimos tempos. Aquele momento inevitável em que a gente coloca os outros 334 dias na balança e tenta descobrir se ainda dá tempo de salvar 2024. A lista de metas volta à tona como um fantasma de promessas não cumpridas.
No papel, tudo parecia impecável. Um verdadeiro tratado de intenções, cheio de frases que poderiam estar num quadro motivacional: cuidar da saúde; guardar dinheiro; aprender algo novo; viajar mais.
O problema é que, como em todo tratado diplomático, a execução deixou a desejar. O que começou como uma declaração de guerra ao sedentarismo acabou como um armistício com o sofá. A matrícula na academia foi feita em janeiro e cancelada em março, provando que o único peso que se movimentou foi o da consciência.
Guardar dinheiro até parecia viável, isso até chegar a primeira promoção da temporada. Entre “frete grátis” e “parcele em até 12x sem juros”, as economias foram embora mais rápido que décimo terceiro na Black Friday. “Eu mereço” virou o mantra do ano.
A meta de aprender algo novo também naufragou. No começo, foi bonito e esperançoso: meia dúzia de aulas assistidas, um caderno com anotações caprichadas e aquela sensação de estar no caminho certo. Mas aí vieram as horas extras, o trabalho não programado, o cansaço adquirido no percurso, a vida real… Com isso, o idioma novo ficou tão distante quanto o próximo réveillon. Bonjour? Talvez em 2025.
A viagem dos sonhos e as expectativas grandiosas precisaram se adequar à realidade da conta bancária. Paris, Nova York e Miami ficaram pra um futuro próximo, se Deus e o juízo permitirem. Por enquanto, o litoral brasileiro com o kit típico de verão é o que está mais ível: sol, mar, disputa por espaço na areia, engarrafamento nas estradas e barulho por todos os lados, do vendedor de picolé aos adeptos do funk no guarda-sol ao lado.
Mas a pergunta que fica: ainda dá tempo de ser feliz?
Esqueça as metas que foram religiosamente procrastinadas. 2024 acaba, mas a vida continua – com um pouco de sorte, é claro. Aproveite pra aprender com o que deu errado ou mesmo com aquilo que não saiu do papel. Pra rir dos tropeços, lembrar dos momentos que vão ficar na memória e abraçar a ideia de que, no fundo, a vida não é uma linha reta cheia de checklists impecavelmente riscados.
A graça está nos desvios, nos recomeços e até nas metas malucas que a gente promete pra si mesmo só pra ter com o que sonhar.
Se não deu pra entrar em forma, valorize os os em outras direções. Se as economias escaparam pelos dedos, talvez elas tenham se transformado em memórias felizes. E se a viagem dos sonhos precisou esperar, ainda dá tempo de encontrar novas e encantadoras paisagens no trajeto diário.
Porque, no fim das contas, não é sobre cumprir metas à risca, mas sobre ter coragem de continuar sonhando. Sempre dá tempo de recomeçar, de rir, de aprender a dançar conforme a música e novos motivos pra sorrir.
Dezembro chegou. E com ele, a chance de encerrar o ano com leveza. A contagem regressiva vai continuar, o calendário vai virar outros 365 dias virão pra tentar tudo de novo. Sem pressa, sem culpa, mas com a certeza de que sempre dá tempo de ser feliz.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária, cumpriu parcialmente suas metas com a esperança de que um novo ano logo chegará.