
Lembra quando a gente estudava a era Mesozoica e os dinossauros que habitaram a Terra até cerca de 65 milhões de anos? Então, os assustadores animais dos livros de História e Geografia ganharam outros contornos nos dias de hoje: são todos os integrantes da geração X e anteriores, aqueles que nasceram antes do advento da internet. Que sabiam viver com o “vazio” existencial oferecido antes do smartphone surgir no planeta. Os analógicos são os novos dinossauros da História.
Aquelas pessoas que sabiam o funcionamento de uma máquina de datilografia, a finalidade de um filme fotográfico, já operaram uma vitrola, tinham quatro ou cinco canais disponíveis na televisão e costumavam – ou ainda costumam – ler livros, revistas e jornais em formato impresso, muitas vezes correndo o risco de sujar as mãos com a tinta fresca da impressão.
Uma amiga, que é psicóloga, dias atrás chamou minha atenção pra um fato bem importante: hoje ainda temos noção da importância e da necessidade de desconectar pra valorizar o mundo real, de conversar trocando olhares, sensações e percepções concretas. Mas as próximas gerações provavelmente não terão essa noção, uma vez que a tendência é que a vida esteja cada vez mais digitalizada.
O fato de pertencer a uma geração originalmente analógica me orgulha e me garante inúmeras histórias pra contar, sem que eu me sinta velha por isso. Posso dizer que as mudanças foram muito rápidas e eu consegui me adaptar e estou sobrevivendo a todas elas até agora. ava as férias na praia ou no sítio sem televisão, fiz muita palavra cruzada, descobri o resultado do vestibular pelo jornal só horas depois, aprendi ar fax, revelar fotos, usei bip e máquina de escrever.
Perto dos 50, acho que me viro bem em quase todas as redes sociais, sei ler manuais de instrução de todos os equipamentos tecnológicos que me cercam e acompanho as notícias em tempo real, na palma da mão.
Isso não significa que eu goste de jogar videogame – nem do Atari eu fui fã, quem dirá do X-Box, um treco que o controle parece que não tomou o ansiolítico rotineiro –, seja viciada nas dancinhas do TikTok, nos debates sem futuro do X (ex-Twitter) ou troque os livros em papel por uma plataforma digital (até tentei, mas não deu!).
Graças ao aumento da expectativa de vida, os analógicos vão durar um pouco mais e ainda contribuir com pérolas medievais que irão se transformar em memes nas mãos dos nativos digitais. Mas é questão de tempo. Os analógicos também estão entrando em extinção.
Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e nasceu em 1975.