Os primeiros grupos sociais que podem ser descritos com esse nome datam de muitos séculos, surgiram quando pessoas, não necessariamente unidas por laços familiares próximos, firmaram compromissos que superaram as desconfianças e hostilidades naturais no interesse da sobrevivência em um mundo perigoso e pouco provido de alimentos.
No entanto, uma determinada violência ritual parece ser uma invenção social que permite ao grupo alcançar uma coesão, considerada legítima por evitar uma violência maior a que se estaria sujeito caso as paixões, sentimentos de posse, invejas fossem liberadas, pois então perder-se-ia a união, sendo necessário um sacrifício das identidades individuais em prol de manter outra, contida pelas leis, que coletivamente seriam mais adequadas.
Assim, ao longo do processo civilizatórios aprendemos a trocar impulsos individuais para invocar a unidade, a harmonia comunitária, a cooperação, o coletivo, o sentimento de pertencer a uma comunidade.
Hoje, em um mundo ideal, a violência e as agressões não existiriam, superadas por leis, códigos de comportamento e pela própria falta de motivos ou necessidades, como idealizamos que ocorra nos países nórdicos, mas infelizmente a realidade mostra o contrário.
A violência tem se tornado cada vez mais um comportamento, que além de remontar aos instintos mais primitivos e às frustrações naturais de nosso tempo, tem se banalizado e legitimado barbáries provocadas também por filmes, séries, posts de mídias sociais, como fruto de produção da indústria cultural interessada em ganho rápido e de massa, e da polarização política em que dezenas de países no mundo estão imersos.
A sociedade, com deficiências educacionais e sentindo-se bem-informada, embora às vezes apenas por publicações dirigidas a determinados segmentos ideológicos, reage com ividade e assume como seus os mecanismos alienados, acríticos, consumistas, em meio às distrações promovidas para emular comportamentos desequilibrados.
As narrativas são homogeneizantes, banalizando a vida colonizada por violências que autorizam a selvageria humana sem valores éticos, estéticos e políticos, porém repletos de recursos técnicos e científicos, com visão distorcidas da realidade. Pluralidade de significados, que misturam valores sociais baseados na agressividade, com interesses pessoais acima da coletividade, contradições, e reconhecimento social vindo da imposição de suas vontades e brutalidades sobre todo um grupo se tornam a norma para toda uma geração. A reflexão sobre a vida social, no sentido de enfrentar a decadência e a banalização da ferocidade na espontaneidade, que despreza a educação formal, promovendo alienação e visões de mundo preconceituosas, desconsidera a interdependência social.
Por isso as múltiplas aprendizagens coletivas devem ser inseridas nos espaços escolares, para a discussão de temáticas relevantes e fundamentais para a formação de toda uma nova geração, gerar alteridade, envolvendo sentimentos e emoções de se colocar no lugar do outro, provocar debates sobre paradoxos e atrocidades humanas, discutindo formas de pensar e modos de agir.
Combater o machismo, a cultura de superioridade de homens sobre mulheres e mesmo animais, que provoca em jovens ainda em formação a subjugação como maneira de pensar e agir, e como o sentimento de inferioridade se espalha entre mulheres pelos vínculos familiares, funcionais ou matrimoniais.
Preconceitos profundamente enraizados estabelecidos acerca da mulher, em relações parentais em que o homem assume papel de provedor e único responsável pela segurança e bem-estar da família, da qual se torna, portanto, uma espécie de divindade, entretanto ao mesmo tempo um escravo do trabalho, faz com que sejam perpetuados e reproduzidos tais comportamentos.
Ao lado dos conteúdos tradicionais que trazem o conhecimento técnico e científico, noções como estas afetam a educação familiar e não apenas a escolar, pois o mundo contemporâneo necessita respeito à diversidade, para que mais políticas públicas possam atenuar as desigualdades e efetivar garantias de direito, além de contenção individual em detrimento dos valores sociais.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.