Moda, em Estatística, define o valor que aparece com mais frequência em um grupo de dados em observação.
Em um significado decorrente deste, Moda seriam os usos, costumes ou trajes mais comuns em determinado momento num grupo social. Num aparente paradoxo, considera-se moda como algo não conformista, inovador, quando em realidade é a expressão mesma do conformismo, está “na moda” quem segue a tendência mais geral.
Parte da indústria da confecção mantém “olheiros” nas ruas, shoppings e lugares de lazer onde pode ser observada a “moda das ruas”, como se vestem e se comportam aqueles que pela originalidade e até pela falta de recursos para comprar os ícones das vitrines adaptam com criatividade seus trajes. Algumas vezes essas criações, devidamente estilizadas, inspiram as “coleções” de verão ou de inverno, o que estará à venda e será a próxima moda.
A partir dos anos cinquenta do século ado, as calças Jeans foram parte de uma autêntica revolução; resistentes, eram usadas principalmente por trabalhadores, mas quando os atores Marlon Brando e James Dean as usaram em filmes tornaram-se símbolos da contracultura, milhões de jovens as adotaram, foram objetos de desejo em todo o mundo, mesmo na então União Soviética onde a “moda do capitalismo” era execrada pelo poder. Até hoje os Jeans estão em quase todos os guarda-roupas, recebendo às vezes customizações caseiras que os tornam originais.
Uma característica inata de humanos e símios é a imitação, aprendemos copiando atitudes e hábitos, o que tem importância capital na sobrevivência das espécies; recursos de alimentação e segurança são aprendidos por similaridade. A moda não é diferente, o comportamento e aparência de quem iramos é modelo a ser seguido, até reforçando o caixa de muitos “famosos” que usam a fama para divulgar suas próprias marcas de roupas, cosméticos e o que mais possa ser vendido.
A cidade de São Paulo usa em seu brasão, com algum otimismo, a expressão latina “Non ducor, duco” que significa “Não sou conduzido, conduzo”; com viés político e econômico, a frase se aplica também às pretensões de ineditismo dos criadores de modas.
Um dos ícones para a juventude foi Steve Jobs, e este criador que revolucionou seis indústrias: computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicações digitais, foi um precursor do desprezo à moda, quando instituiu para si mesmo um uniforme, uma mesma roupa usada todos os dias e em qualquer ocasião, para reduzir o número de decisões que tinha que tomar diariamente e apenas se concentrar no trabalho.
É claro que “seu uniforme” era de excelente qualidade, ao alcance de poucos trabalhadores pela qualidade, porém o que prevaleceu foi o seu desprendimento em escolher roupas de cores e padrões diferentes todos os dias; com isso distinguindo todo um grupo de pessoas modernas que pretendiam não se preocupar com a moda, e ao mesmo tempo lançando esta moda.
Grupos, e isso é particularmente visível dentro das escolas, constituem-se e se mantem pelo uso da moda/indumentária como símbolo de comunicação. Por isso ostentam cores e modelos de vestimenta bem similares, que fazem o signo de suas identificações.
Dentro de uma instituição de ensino é essencial compreender as diferentes formas de comunicação para além do que é falado, pois a comunicação estabelecida em vestes e atos, revela muito – mas não tudo, claro – do que somos e pensamos.
Este processo é mais amplo e complexo que a rotina escolar pode detectar: roupas e adereços podem estar além da compreensão do âmbito escolar, principalmente quando este exige um uniforme padrão, que quase ofusca as formas simbólicas de comunicação.
Entretanto, a padronização dos uniformes escolares não consegue eliminar todas as diferenciações: brincos, pulseiras, tererês, tatuagens, colares e muitos outros enfeites subsistem.
Assim a moda não deixa de estar presente até no espaço da escola, como na rua, parques, cinemas, museus, mesmo que queira não reconhecer na moda/indumentária uma forma de comunicação, de distinção de intelectualidade, poder econômico ou classe social.
Afinal, o estudante é um sujeito sociocultural, com sua individualidade. E isso é fundamental para se desejarmos aprofundamento da dimensão educativa, o aluno introduz no contexto escolar seu processo de humanização, sua cultura, seus saberes. Também seus problemas: pouco estudo, notas baixas, bagunça, uso de drogas, violências domésticas que sofre, ou então o exato oposto, cultura acima da média, ótimo rendimento, viagens frequentes, família equilibrada.
As potencialidades pedagógicas trazidas pelo ambiente externo à sala de aula podem auxiliar ou prejudicar o processo ensino-aprendizagem, que é focado essencialmente na própria sala de aula (ou no laboratório, na quadra esportiva, nas salas multitarefas), e, portanto, limitado aos saberes institucionalizados.
Relações interpessoais, princípios éticos, raramente são inteiramente desenvolvidos na sala de aula. Pelo contrário, as normas e delimitações do tempo e espaço escolar, o fato de em certa forma estarem constantemente vigiados e sob possibilidade de sanções, faz com que grupos dos alunos, que demonstram determinada identidade, algumas vezes sejam tomados como indesejáveis, ou pelo menos um incômodo no cotidiano escolar.
E assim muitas escolas desarticulam os grupos que são formados autonomamente pelos alunos pois isso pode interferir nos propósitos escolares (desfaz-se o “pessoal do fundão”, por exemplo), e são estabelecidas certas regras. Tais regras não costumam ser discutidas, e desta forma a personalidade do estudante apenas pode manifestar-se pela “moda” que é permitido ostentar.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Educação Superior do Brasil – UniBrasil.